Nunca é demais lembrar que acompanhamos a caminhada da Fé ao longo do ano na celebração da Liturgia dominical. As passagens da Bíblia que escutamos e que, interessados, trazemos para a vida, alimentam-nos e levam-nos a ter uma ligação cada vez mais intensa com o SENHOR e com a comunidade de que fazemos parte. Esta é a nossa família segundo a FÉ. Não podemos viver sem ela. A consciência de que somos membros do mesmo Corpo (o que nos é lembrado por S. Paulo em vários lugares das suas cartas), é um dos motores que nos transporta e nos impele a sermos membros ativos e felizes na construção da PAZ e da comunhão com todos.

O Evangelista do Ano B, São Marcos, põe em destaque ao longo do seu Evangelho, a ternura que Jesus manifesta pelos doentes. Parece ser este um dos traços mais característicos da personalidade de Jesus e da Sua disponibilidade sem limites para acolher e abraçar quem sofre, e para curar as feridas do corpo e do espírito. É comovente a cena descrita no Evangelho de hoje.

Somos nela introduzidos pelas palavras do Levítico que fala da lepra, doença que era vista nessa época como sinal de culpa e de maldição, obrigando os leprosos a viverem fora de todo o contato com as outras pessoas. Olhemos para a forma como Jesus atua: deixa que o pobre leproso se aproxime dele, escuta-o, o Seu coração enche-se de compaixão, estende a Sua mão e toca o leproso. E ainda fala-lhe com ternura: QUERO! FICA LIMPO. A atitude de Cristo é algo de extraordinário e deita por terra os «preceitos» dos homens, declarando, de uma maneira muito clara, que a dignidade de uma pessoa nunca deve ser limitada e muito menos abolida por ninguém. Podemos aproximar deste modo de agir de Jesus as nossas atitudes, gestos e palavras para com os doentes e para com os pobres e infelizes. E colocar aqui as questões que alguns chamam de fraturantes. A eutanásia, por exemplo, agora na ordem do dia. A MISERICÓRDIA SEM LIMITES, eis o Jesus proclama, defende e pratica.

O belíssimo Salmo 32 é o testemunho de um convertido, que canta a felicidade do perdão. Servindo-me dum comentário de D. António Couto, Bispo de Lamego e grande biblista, aqui deixo as suas palavras: «… perdoar o pecado não significa simplesmente “esquecer“ o pecado, passar por cima do pecado, mas, mais intensamente, “arrancar“ o homem ao pecado, o que constitui um milagre só ao alcance do poder de Deus. Santo Agostinho afixou uma cópia deste Salmo na parede do seu quarto, diante do seu leito. E lia-a entre lágrimas, o que lhe trazia grande conforto, sobretudo durante os últimos tempos da sua doença, de que veio a falecer.» (Quando Ele nos abre as Escrituras, 183)

Padre Manuel Magalhães Fernandes