Ser cristão significa sentir a alegria de pertencer totalmente a Cristo, «único esposo da Igreja» e ir ao encontro d’Ele como se fossemos para uma festa de casamento. Portanto, a alegria e a consciência da centralidade de Cristo são as duas atitudes que os cristãos devem cultivar no dia-a-dia, recordou o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de sexta-feira, 6 de Setembro, na capela da Domus Sanctae Marthae.

A reflexão do Papa Francisco  inspirou-se no episódio evangélico proposto pela liturgia, no qual o evangelista Lucas narra o confronto entre Jesus, os fariseus e os escribas sobre o facto de que os discípulos que estão com ele comem e bebem enquanto os outros  jejuam (Lc 5, 33-39). O Pontífice explicou o que Jesus, na sua resposta aos escribas, quer fazer entender. Ele apresenta-se como esposo: «Ele é o esposo. A Igreja é a esposa. E no Evangelho – frisou o Papa – muitas vezes esta imagem volta: as virgens prudentes que esperam o esposo com as lâmpadas acesas; a festa que o pai faz para as núpcias do filho». Com a sua resposta aos escribas, explicou o Pontífice, «o Senhor diz que quando se é esposo não se pode jejuar, não se pode ficar triste. O Senhor  faz-nos ver aqui a relação entre ele e a Igreja como núpcias». Eis, explicou, «o motivo mais profundo pelo qual a Igreja protege muito o sacramento do matrimónio. E chama-o sacramento grande porque é precisamente a imagem da união de Cristo com a Igreja». Portanto, quando se fala de núpcias «fala-se de festa, de alegria; e isto indica a nós cristãos uma atitude»: o cristão  quando encontra Jesus Cristo e começa a viver segundo o Evangelho, deve fazê-lo com alegria. Uma alegria «porque é uma grande festa».

O cristão é fundamentalmente alegre. Para tornar ainda mais eficaz a imagem, o Papa recordou o episódio do milagre de Jesus nas núpcias de Caná. «Se não há vinho não há festa. Imaginemos – disse – acabar as núpcias bebendo chá ou sumo de fruta… Não! E Nossa Senhora pediu o milagre». E a vida cristã é assim caracterizada exactamente por esta «atitude, alegre, alegre de coração».

Naturalmente, acrescentou o Pontífice, «há momentos de cruz, momentos de dor, mas sempre com aquele sentido de paz profunda. Porquê? A vida cristã é vivida como uma festa, como as núpcias de Jesus com a Igreja». E o Santo Padre recordou neste ponto como os primeiros mártires cristãos enfrentaram o martírio como se fossem para as núpcias; também naquele momento tinham o coração alegre. Portanto, a primeira atitude do cristão que encontra Jesus, repetiu o Papa, é semelhante à da Igreja que se une como esposa a Jesus. «E no fim  do mundo – acrescentou – será a festa definitiva, quando a nova Jerusalém estará vestida como uma esposa».

Para explicar a segunda atitude o Santo Padre evocou a parábola das núpcias do filho do rei (Mt 22, 1-14; Lc 14, 16-24). «Algumas pessoas – recordou – estavam tão ocupadas nos assuntos da vida que não puderam ir à festa. E o Senhor, o rei, disse: ide às encruzilhadas dos caminhos e levai todos, viajantes, pobres, doentes, leprosos e também os pescadores, levai todos. Bons e maus. Todos são convidados para a festa. E a festa começou. Mas depois o rei olhou para um que não usava a veste nupcial. Certamente, vem-nos a pergunta: “Padre, mas como: foram trazidos das encruzilhadas das estradas e depois pedem-lhes a veste nupcial? O que significa isto?”. É muito simples: Deus pede-nos só uma coisa para entrarmos na festa, a totalidade». O Papa Francisco explicou: «O esposo é o mais importante; ele preenche tudo. E isto leva-nos à primeira leitura (Cl 1, 15-20) que nos fala fortemente da totalidade de Jesus. Primogénito de toda a criação, nele foram criadas todas as coisas e  por meio dele e em vista dele; porque ele é o centro de todas as coisas. Ele é também a cabeça do corpo da Igreja. É o princípio. Deus deu-lhe a plenitude, a totalidade porque nele estão reconciliadas todas as coisas».

Esta imagem faz-nos compreender, continuou o Santo Padre, que ele é «tudo», é «único»: é «o único esposo». E por conseguinte se a primeira atitude do cristão «é a festa, a segunda – frisou – é reconhecê-lo como único. E quem não o reconhece não possui a veste para ir à festa, para ir ao casamento». Se Jesus nos pede este reconhecimento é porque ele como esposo «é fiel, sempre fiel. E pede-nos a fidelidade». Não se pode servir dois senhores: «Ou servimos ao Senhor – recordou o Papa – ou servimos ao mundo».

Portanto, é esta «a segunda atitude cristã: reconhecer Jesus como o todo, como o centro, a totalidade», mesmo se existir sempre a tentação de rejeitar esta «novidade do evangelho, este vinho novo». Por isso, é necessário acolher a novidade do evangelho, porque «os odres velhos não podem conter o vinho novo». Jesus é o esposo da Igreja, que ama a Igreja e que dá a sua vida pela Igreja. Ele organiza uma grande «festa de núpcias. Jesus  – concluiu – pede-nos a alegria da festa. A alegria de ser cristão». Mas pede-nos também para sermos totalmente seus; contudo se mantivermos atitudes ou fizermos algo que não está em sintonia com este sermos totalmente seus, «não acontece nada: arrependamo-nos, peçamos perdão e vamos em frente», sem nos cansarmos de «pedir a graça de sermos alegres».

News.va – http://www.news.va/pt/news/a-graca-da-alegria