Iniciámos na quarta-feira, dia 14, o tempo da Quaresma. Esta palavra «QUARESMA» traz à memória de quem acolhe Jesus na sua vida, muitas coisas que se prendem com a FÉ. Eis algumas: Páscoa, conversão, penitência, salvação e libertação, celebração dos sacramentos de entre eles a confissão ou reconciliação, a oração, o jejum, a partilha, etc. É, pois, um tempo a que a Fé deu um sentido muito particular. Ao ser-nos lembrada a Páscoa dos judeus e a sua saída do Egipto em direção à Terra da promessa, os longos anos passados no caminho, a Teofania junto ao Sinai, a ALIANÇA que vai marcar e marca ainda a história do povo de Deus, tudo isto nos conduz à pessoa de JESUS CRISTO. Para nós, cristãos, a Quaresma e a Páscoa realizaram-se na pessoa de Cristo, na sua paixão, morte e ressurreição. Falamos com frequência do MISTÉRIO PASCAL e com muita razão. Tudo o que Deus se dispõe a realizar na humanidade, atingiu já a sua plenitude no HOMEM NOVO que é Jesus. Esta é a certeza que orienta a nossa vida, e a luz que ilumina o caminho que percorremos. Com a presença d’Aquele que caminha connosco sentimo-nos mais fortes, pois Ele nunca nos deixa na escuridão perdidos como um barco à deriva no mar imenso das dificuldades, antes nos ajuda a levar o peso dos dias. CERTEZA MAIOR NÃO HÁ.

Voltemo-nos agora para as leituras deste domingo. Podemos começar por acolher as mensagens que nos oferecem sinais que nelas aparecem, tais como a água e o deserto. A passagem do Génesis fala de Noé, do dilúvio e da primeira Aliança com que Deus se liga ao povo judeu; o Evangelho conduz-nos ao deserto onde Jesus se recolhe durante quarenta dias afim de se preparar para a Sua Missão. Aí é sujeito às tentações que vence, apoiado na Palavra de Deus. A água e o deserto são duas coisas bem concretas, que respondem à nossa maneira de compreender a vida. E a Fé serve-se delas para nos fazer compreender melhor aquilo que Deus realiza no coração das pessoas, levando-nos a uma conversão sempre mais alargada. Quer a água, quer o deserto levam-nos a pensar na SEDE. E a sede é imensamente expressiva. Não temos apenas desejo de água ou de outros líquidos para «matar» a sede nos dias quentes ou quando estamos num deserto; experimentamos outras formas de sede. Lembremos a sede de quem está na solidão; dos refugiados que suspiram por um lugar que lhes traga paz, das crianças que não são amadas, etc. As sedes são incontáveis. Que Aquele que na cruz sentiu e falou da sede (TENHO SEDE) nos sacie e nos leve a imitá-lo na pessoa dos postos à margem neste mundo.

Termino com uma pergunta: já sabe que o Padre Tolentino vai dirigir o retiro do Papa e da Cúria Romana? E sabe de que vai falar? Precisamente da SEDE. São suas as palavras que aqui transcrevo: «Todo o ser humano tem sede. Sede de amor, sede de reconhecimento, sede de dignidade, sede de diálogo (…) e muita sede de Deus.» (em V. Port. 14 Fev. pág. 13)

Padre Manuel João Magalhães Fernandes