Com o inverno veio o frio! Veio também, como é óbvio, o tempo de se acender as típicas lareiras, que são ótimas para acompanhar várias atividades: se formos mais piedosos, para rezar uns Terços; ou se formos mais glutões, para ver a chuva a cair enquanto se aquecem os pés e se bebe um belo de um chocolate quente; ou ainda, se formos mais tvaholic (viciados em ver televisão), para ver os jogos olímpicos de inverno.

Mas há chamas que são sinal de choro. Se vimos e, porventura, sentimos de perto os incêndios que fustigaram o nosso país no verão passado, percebemos que estes são marcados por isso mesmo.

Também na história de Jesus Cristo, não fugindo à regra, o lume está presente numa cena que envolve lágrimas. É com Pedro, mais precisamente nos trechos evangélicos da Paixão. Simão Pedro enquanto o seu Mestre é interrogado pelo Sinédrio aquece-se numa fogueira acendida por soldados, pormenor relevante, os mesmos que trouxeram Jesus até ali. Nela decorre uma das cenas mais enigmáticas da vida do primeiro Papa, aquele que é o Guia do Rebanho, a Rocha – como o seu nome significa: por três vezes Pedro nega Jesus, o próprio que afirmou de sua certeza que nunca o negaria. E depois o que há? Evidência das evidências: choro, ranger de dentes, lágrimas, um “goticular” do Sumo Pontífice.

Contudo, para não faltarem os mistérios da vida, já depois de ressuscitado, Jesus aparece aos Apóstolos na praia e convida-os a comer junto à fogueira que acendeu. Pedro foi e comeu, agora no lume que não fere mas que ilumina. Ali professa por três vezes o amor ao seu Mestre.

Santa Catarina de Sena, virgem do século XIV, dizia que se nós fôssemos o que devíamos ser pegaríamos fogo ao mundo inteiro. Que haja muito destas labaredas do amor de Deus! Muitos santos ao longo da história da Igreja cumpriram isto nas suas vidas, muitos mártires experimentaram o fogo que arde mas não dói porque a acendalha tem um rosto: chama-se Nosso Senhor Jesus Cristo. Vivemos um tempo favorável para a conversão, um tempo propício para aprendemos a cumprir a vontade de Deus nas nossas vidas, um tempo para deixarmos esse fogo abrasar os nossos corações! Santa Quaresma!

Afonso Sousa