Jesus, ao anunciar a Boa Nova do amor de Deus pelos homens, teve atitudes surpreendentes para com os leprosos, os cegos, os coxos, os doentes. Tidos como impuros ou pecadores e, por isso, social e religiosamente marginalizados, Jesus acolhia-os e curava-os. Promoveu e proclamou, desta forma, que a saúde da alma e do corpo, isto é, a saúde integral da pessoa faz parte da vontade de Deus.

A solicitude pelos doentes, depois da Páscoa gloriosa de Jesus, é uma ordem do Mestre. Com efeito, ordenou aos discípulos que anunciassem o Evangelho curassem os doentes. Mais, visitar os doentes e fazer-lhes bem é fazê-lo ao próprio Cristo (cf. Mt 25). Nos Actos dos Apóstolos, o anúncio do Evangelho por Pedro, João, Barnabé e Paulo é acompanhado e confirmado por curas. São Tiago revela que as comunidades cristãs se preocupavam com os doentes e que estes, quando não podiam sair de casa devido à gravidade da doença, tinham o dever de mandar chamar os presbíteros para que estes orassem sobre eles e os ungissem em nome do Senhor (cf. Tg 5, 14). Isto é, deviam receber a visita dos presbíteros para, confortados e vivificados na fé, serem capazes de lutar contra a doença e o sofrimento, testemunhando o amor de Jesus.

Se até aos séculos XVIII/XIX a Igreja geriu a grande maioria dos hospitais, cuidando do corpo e da alma dos doentes, com a revolução francesa e a separação entre o Estado e a Igreja, os Hospitais passaram a ser geridos pelo Estado e à Igreja ficou reservada a assistência espiritual e religiosa dos doentes e profissionais. Nos últimos anos, porém, tem havido uma contestação à presença da Igreja nos hospitais, desvalorizando as questões espirituais e religiosas, por parte de laicistas.

Contrariando estas ideias secularistas e indo ao encontro da experiência bimilenar da Igreja, a investigação científica confirma que a espiritualidade e a vivência religiosa tem particular importância no enfrentamento da doença e do sofrimento: são fonte de bem-estar, paz e sentido, sendo particularmente relevante o seu efeito nas situações mais severas de sofrimento, por exemplo em casos oncológicos ou na imunodeficiência adquirida. Pode-se dizer, então, que a fé é fonte de vida e de saúde e isso não pode ser ignorado ou desprezado. Neste sentido, o Decreto-lei 253/2009 afirma o direito dos doentes à assistência espiritual e religiosa no Hospital, devendo esta ser garantido através de um serviço organizado e que funcione de forma regular. Temos, assim, nos hospitais públicos, o «Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa (SAER)», antiga Capelania, cujo objectivo primário é atender às necessidades espirituais e religiosas dos doentes e dos profissionais, bem como celebrar o culto havendo para isso uma capela. A Igreja cumpre, assim, o dever de solicitude espiritual pelos doentes, como Jesus mandou, com a presença do capelão e voluntários da comunidade cristã a ele associados; e os doentes cristãos podem cumprir o dever de pedir o conforto espiritual e vivificar a fé, como manda o Senhor através do Apóstolo Tiago, pedindo a visita e a oração do capelão e dos voluntários.

A contestação laicista exige, portanto, às comunidades cristãs atenção e defesa dos seus interesses, bem como tornar visível a sua presença nos hospitais através do voluntariado e da ajuda solidária. E a melhor defesa do direito à assistência espiritual e religiosa é exercer, no Hospital, esse mesmo direito: “se tiver de ser internado(a), não esqueça, peça a visita do capelão aos enfermeiros logo no início do internamento. Não fique à espera”.

texto pela Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa