É com profunda dor e consternação que vos comunico do falecimento do nosso Pe. Magalhães. Homem de profunda simplicidade e de grande testemunho cristão.

Seriam muitos os testemunhos a relatar do seu humanismo, da sua fraternidade e do seu amor a todos aqueles com quem se cruzou e trabalhou ao longo da sua vida missionária.

Na certeza de que Deus o acolheu nos Seus braços, deixo-vos um testemunho do seu caminho na nossa Paróquia. Até sempre querido irmão.

Pe. Andrew Prince


“Caros Irmãos,

(…) Para mim – e julgo que para todos vós – o Padre Manuel Magalhães, desde que chegou a esta igreja paroquial, e até hoje, veio ensinar-nos duma maneira diferente três verdades imensas que, por si e em si, nos mostram a todos como se pode ser grande aos olhos de Deus: A Fraternidade; o Humanismo; a Modéstia.

A Fraternidade, pelo seu cuidado desde sempre evidente, na busca de partilhar a bondade que tem na alma com os seus semelhantes, partilhando, também, e em simultâneo, na dor de quem sofre.

O Humanismo, pela sua postura perante a sociedade em que vivemos, cada dia mais carente da benevolência e da com- paixão para com os seus erros, com os mil ensinamentos que nos transmite nas suas homilias, e na tolerância em perdoar os nossos pecados, sabendo de antemão que, logo após ter- mos recebido o seu perdão, todos nós voltamos a pecar.

A Modéstia, – talvez a sua maior grandeza – pelo seu cuida- do em circular entre nós, despido de todas as vaidades do espírito, de todos os alardes e de todos os orgulhos que uma carreira de mais de cinquenta anos ao serviço da Igreja de Deus lhe poderiam proporcionar. É aqui – precisamente na Modéstia! – que o Padre Manuel Magalhães, para mim, mais se revela.

Parecendo gente anónima na multidão, só quem lhe conhecer o trajecto da vida, adivinhará a dádiva, íntima, de si aos outros e as preocupações que o motivam, perante os múltiplos problemas da terceira idade. E, não só. (…) Sabe, essencialmente, que, como pedra angular da Igreja de Cristo, e como seu representante, para divulgar a Fé, muitas vezes só no recolhimento o Homem o consegue. Junto dele – e ninguém o negará, por certo – respira-se aquele infinito valor que todos nós procuramos: a Paz.

Desde que o conheço, não mudou um milímetro que fosse na sua busca de se pagar “de motu próprio” para que, nós outros, tenhamos um pouquinho mais de sol.

Aí, no meu entendimento, a sua tão grande e tão desconhecida grandeza.

E há que agradecer-lhe esse imenso dom que Deus lhe concedeu de, permanentemente, no-lo ensinar pelo exemplo, de que tantos de nós nem damos conta. (…)”

João Batista Coelho, Tires, 03 de novembro de 2013.


PARTIU PARA O PAI UM GRANDE MISSIONÁRIO

O P. Manuel Magalhães Fernandes foi o primeiro Superior Espiritano que eu tive quando cheguei ao Seminário de Fraião, em Braga, em 1975. Acabava de regressar de Angola, onde fora missionário no Bié (ex-Silva Porto), que seria, em 1989, a minha primeira terra de Missão, em Angola.

Depois, em Coimbra, nos anos 1981 e 1982, tive-o como Mestre no meu ano de Noviciado. Foi uma pessoa que me marcou para toda a minha vida missionária.

Em 2011, escrevi um texto sobre ele no jornal VOZ DA VERDADE, do Patriarcado de Lisboa. Aí vai, como homenagem.

De Vila Pouca ao Altar foi uma longa etapa. Percorreu quilómetros e quilómetros pelos caminhos da Missão: Silva Porto e Nharea, em Angola; Bajob e Caió, na Guiné-Bissau; Braga, Régua, Coimbra, Lisboa, em Portugal. Está, desde 2004 na Paróquia de Tires. A 8 de Dezembro celebra o Jubileu de Prata desta Comunidade, que desde os começos, é marcada pela Missão Espiritana.

De Vila Pouca ao Altar…

Nasceu a 20 de Agosto de 1938, em Trás-os-Montes, mas nunca celebrou o aniversário, porque a Mãe faleceu no parto. Bem cedo entrou no Seminário de Godim, na Régua. A caminhada rumo ao sacerdócio fez-se sem sobressaltos. Após o Noviciado, fez a Profissão Religiosa, em Barcelos. O Seminário da Torre d’Aguilha, em Cascais, acolheu-o para os estudos de Teologia. A Ordenação Sacerdotal foi em 1963, durante o Concílio Vaticano II.

No coração de Angola

Como quase todos os Missionários Espiritanos de então, o P. Magalhães sonhava com a nomeação para Angola. Este sonho tornou-se realidade em 1964, indo parar a Silva Porto, hoje Kuito-Bié. Ali viveu sete anos intensos de vida missionária, primeiro no Seminário Diocesano e, mais tarde, numa das Missões mais interiores da Diocese: Nharea.

Formador em Portugal

Quando Angola lhe enchia as medidas eis que, em 1971, é chamado a Portugal, sendo enviado para o Seminário do Fraião, em Braga, onde foi Superior e professor. Dez anos depois, pediam-lhe uma Missão exigente: ser Mestre de Noviços. Assim, foi enviado a Coimbra onde arrancou com um Noviciado de quatro jovens. Foi um tempo marcado pela aposta na Espiritualidade e Vida de Comunidade. Foi o meu Mestre de Noviços, de quem guardo gratas recordações.

Com os Manjacos na Guiné

A Guiné-Bissau seria o ponto de partida de mais uma missão de fronteira. Era sabido que este país lusófono estava na cauda de todas estatísticas e indicadores políticos, económicos e sociais. É um país pobre e sem estabilidade. O interior estava (como ainda está) muito abandonado á sua má sorte. O P. Magalhães ali esteve quatro anos muito difíceis, sobretudo por causa do clima e dos problemas de saúde que iam aparecendo e fragilizando. Esteve sempre em território Manjaco, nas Missões de Bajob e de Caió. Em termos religiosos, a quase totalidade da população é animista, seguindo as Religiões Tradicionais. O contexto é de primeira evangelização, com uma aposta forte nas áreas sociais (saúde, educação, desenvolvimento…) e de presença amiga junto de um povo que é hospitaleiro e acolhedor. Há já uma pequena comunidade cristã que faz caminho com os Missionários e as Missionárias do Espírito Santo.

Animação Missionária

O Seminário de Godim acolheu-o, em 1992, depois desta experiência missionária na Guiné. Foi um tempo de recobrar energias e saúde e de se dedicar á Animação Missionária em Trás-os-Montes e Alto Douro. Dali regressaria a Coimbra, percorrendo as extensas Dioceses do Centro do país, lançando apelos à Missão.

2004 marca o seu regresso à Comunidade da Torre d’Aguilha, onde estudou Teologia e onde foi Ordenado. Desta comunidade, parte todos os dias (e algumas vezes cada dia!) para Tires, a Paróquia que lhe foi confiada e que celebra, neste 8 de Dezembro, 25 anos de existência.

Pároco de Tires

Tires é uma Paróquia humilde, que nasceu de uma comunidade que foi crescendo com famílias vindas do norte, do interior e do sul do país, que tentavam vir para Lisboa arranjar trabalho e foram construindo neste área. Foi D. António Ribeiro quem criou a Paróquia e quem presidiu à primeira Eucaristia. Hoje, tem dois centros de Culto (a Igreja Paroquial, em Tires e a Capela de Caparide), possui ainda um Centro Comunitário com diversas valências (idosos, creche….). Na área da Paróquia está o centro Prisional de Tires, cujos cuidados pastorais estão confiados ao P. Agostinho Brígido, também Espiritano.

Bodas de Prata…

O Programa das Festas Jubilares abriu em Agosto, por ocasião do aniversário do P. Agostinho Pereira da Silva, primeiro Pároco, que tem uma grande avenida que liga as duas Paróquias onde ele trabalhou intensamente: S. Domingos de Rana e Tires. Houve uma Eucaristia Solene. Agora que a data do Jubileu de Prata se aproxima, todas as forças vivas, todos os Movimentos vão reunir para reflectir e rezar, ajudados pelos Padres Simon, Miguel Ribeiro e Hugo Ventura, o único Padre natural da Paróquia. Na noite do dia 7 haverá um Vigília Missionária (21h) e, na Solenidade da Imaculada Conceição, o Cónego Tito presidirá, em nome de D. José Policarpo, à Eucaristia das 11h.

PERFIL

1938 – Nascimento em Três Minas, Vila Pouca de Aguiar
1958 – Profissão Religiosa na Silva, Barcelos
1963 – Ordenação Presbiteral na Torre d’Aguilha, Cascais
1964 – Missão em Silva Porto, Angola
1971 –Formador em Portugal
1988 – Missão com os Manjacos na Guiné
1992 – Animador Missionário em Portugal
2004 – Pároco de Tires, em Cascais

Pe. Tony Neves