É uma verdade incontestável que ninguém gosta do sofrimento e sim, faz todo o sentido. O ser humano abraça o caminho de facilitismo com toda a vontade e alegria. Mas não podemos esquecer que o sofrimento é parte intrínseca da vida humana e sabemos que nem sempre o céu estará azul, nem sempre o mar estará calmo, nem sempre será primavera. Para poder carregar esta cruz, o nosso itinerário da vida cristã deve consistir no caminho da escuta atenta de Deus e dos Seus projetos, da obediência total e radical aos planos do Pai.

Neste II domingo da Quaresma, meditamos o Evangelho de São Mateus sobre a Transfiguração, no qual Jesus concede que os discípulos Pedro, Tiago e João sintam a glória da Ressurreição: um pedaço de Céu na Terra. O episódio da transfiguração teve lugar depois da profissão de fé de Pedro – “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mat. 16,16) –, seguido imediatamente pelo primeiro anúncio da paixão aos discípulos, no qual Cristo revela a Sua verdadeira orientação messiânica.

A Transfiguração de Cristo prepara os discípulos para suportar o escândalo da paixão e da morte na cruz. Ensina-nos que o caminho para vida eterna passa sempre pela cruz. Cada um de nós tem a sua, mas o fim desta caminhada é a ressurreição gloriosa. Podemos assim afirmar que a Transfiguração nos mostra o sentido cristão do sofrimento. Contudo, o Evangelho da Transfiguração dá-nos esperança também noutros aspetos da nossa vida, especialmente quando passamos por momentos de escuridão, dor e incerteza sobre o futuro. Para participar na Sua glória, teremos de andar com Ele até ao Calvário.
A Transfiguração de Cristo convida-nos a reconhecer a divindade de Cristo e a escutá-Lo de modo que possamos ser felizes. O convite a escutar Jesus tem um significado fundamental neste episódio, pois Nele é manifestada a plenitude da Palavra do Pai, aquela que Moisés recebeu no Monte Sinai. Tal como aconteceu aos três discípulos, hoje somos convidados a escutar Jesus e a pôr a Sua Palavra em prática. O desafio da Quaresma é aprofundar o verdadeiro sentido da Palavra de Deus na nossa vida. Temos de escutar e anunciar.

Além disso e para além de O escutarmos, devemos permanecer com Ele. Temos de cultivar em nós o gesto de subir ao monte, ou seja, ser homem ou mulher de oração. Santa Teresa do Menino Jesus, descreve a oração como “um impulso do coração, um simples olhar dirigido para o céu, um grito de agradecimento e de amor, tanto do meio do sofrimento como do meio da alegria. Em uma palavra, é algo grande, algo sobrenatural que me dilata a alma e me une a Jesus”. A Transfiguração convida-nos a aprofundar o mistério cristão do amor e a fortalecermos a fidelidade a Deus. Depois desta experiência, teremos de descer do monte, repletos da luz de Cristo. Esta chama, que se acendeu no nosso coração, deve iluminar a vida dos outros, testemunhando a verdade e a fé.

Que a Transfiguração de Cristo nos ajude a viver um testemunho corajoso da Boa Nova e a espalhar a mensagem da paz, da fé e da esperança no mundo.

PISTAS DA REFLEXÃO

  • Como aceito e vivo os sofrimentos na minha vida?
  • Como é que vivo “esta experiência de descer do monte”, ou seja, como dou testemunho do Cristo, Luz do Mundo?

Votos de uma santa Quaresma para todos.
Pe. Andrew Prince Fofie-Nimoh