Está já disponível no site do Patriarcado de Lisboa, mais um vídeo da série “Acreditar com o Concílio”. Desta vez o tema é “Este novo povo de Deus identifica-se com o Corpo de Cristo”, apresentado pelo Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Nuno Brás.
Lumen Gentium, nº 9
“Tal como Israel segundo a carne, peregrino no deserto, já é chamado Igreja de Deus (cfr. 2Esd 13,1; cfr. Nm 20,4; Dt. 23,1 e ss), assim o novo Israel, caminhando no tempo actual em busca da cidade futura e permanente (cfr. Heb 13,14), se chama Igreja de Cristo (cfr. Mt 16,18), porque Ele a adquiriu com o Seu sangue (cfr Act 20,28), a encheu do Seu Espírito e a dotou com meios aptos para uma união visível e social. À assembleia daqueles que olham com fé para Jesus, como autor da salvação e princípio da unidade e da paz, Deus convocou-a e constituiu-a em Igreja, a fim de ser, para todos e cada um, sacramento visível desta unidade portadora de salvação. A Igreja, que deve estender-se a todas as regiões, entra na história dos homens; e, no entanto, simultaneamente, transcende os tempos e as fronteiras dos povos. Nas tentações e tribulações que encontra no seu caminho, a Igreja é confortada pela graça de Deus que o Senhor lhe prometeu, a fim de que, na fraqueza da natureza, se não afaste da perfeita fidelidade, sempre permaneça esposa digna do seu Senhor e, pela acção do Espírito Santo, não deixe de se renovar, até que, pela cruz, chegue àquela luz que não conhece ocaso”.
Comentário de D. Nuno Brás
Vejamos hoje o n. 9 da Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen gentium.
Ele chama-nos a atenção para algumas realidades essenciais da nossa vida de cristãos.
1. Em primeiro lugar, diz-nos que a Igreja é o “novo Israel”, herdeira, na fé, das promessas que Deus tinha feito, ao longo do Antigo Testamento, ao povo que tinha escolhido para ser Sua presença. O Novo Testamento não pode ser compreendido sem termos em conta todo o dinamismo da história de Deus com o povo da Antiga Aliança, e esta encontra em Jesus e na Igreja o seu sentido definitivo, a meta para onde caminham.
2. O povo do Antigo Testamento mostrava sê-lo quando se reunia em Assembleia. É isso mesmo que a palavra grega ecclesia (Igreja) quer dizer: trata-se de uma convocação, realizada por Deus, que se manifesta de um modo visível e perfeito na celebração da Eucaristia. No Antigo Testamento, o povo reunia-se para escutar Deus através de Moisés; nós reunimo-nos à volta do novo e perfeito Moisés que é Cristo, para O escutarmos e para recebermos o alimento do seu Corpo e Sangue. Mas, mesmo quando não nos encontramos no seio de uma celebração litúrgica, somos sempre o povo dos convocados, dos chamados por Deus.
3. Esta “Assembleia” tem uma missão: ser portadora da salvação de Cristo a todos os homens e, deste modo, ser um instrumento de união entre Deus e os homens e entre todos. Por isso, a Igreja não pode deixar de lado a sua tarefa missionária. Ela existe para evangelizar, como afirmava o Papa Paulo VI, e não pode descansar enquanto a salvação que Jesus quer oferecer a todos não chegar até aos confins da Terra. Assim, a Igreja faz parte – e quer fazer parte – da história de todos os povos. Por isso, ela não se destina, de acordo com o Concílio, apenas a alguns povos. Ela não é fruto de uma qualquer força cultural própria desses povos: a Igreja é fruto da vontade de Deus, que quer ser conhecido, louvado por todos, de qualquer raça ou cultura.
4. A história da Igreja, ao longo destes dois mil anos tem sido isso mesmo. Dos inícios, em Jerusalém, no seio da cultura judaica, ela ultrapassou fronteiras e estendeu-se ao mundo grego e romano. Depois, por altura dos descobrimentos, em parte graças à entrega de muitos portugueses, a Boa Nova de Jesus chegou a quase todos os recantos do planeta. Hoje, para além dos povos a quem ainda não chegou o Evangelho, muitos são aqueles que apesar de no início terem acolhido a salvação de Jesus, se esqueceram daquilo que são, da sua identidade cristã.
5. Em toda esta verdadeira peregrinação, a Igreja foi, é e será sempre guiada pelo Espírito Santo. Ele garante-lhe a sua fidelidade – e, deste modo, garante que a Igreja deste nosso séc. XXI é a mesma dos Apóstolos e de todos os grandes santos que nos precederam na fé. Por outro lado, vivendo em novas realidades culturais, a Igreja não pode deixar de constantemente se renovar, não no conteúdo do seu anúncio, que é o Evangelho de sempre, mas no modo como proclama em cada tempo e lugar a salvação de Jesus. Também esta renovação na fidelidade é fruto da ação do Espírito Santo.
Para refletir:
1. Como lemos o Antigo Testamento na sua relação com Jesus e connosco?
2. Como vivemos a dimensão missionária da Igreja?
3. Que necessitam as nossas comunidades para serem mais fiéis ao Evangelho e, ao mesmo tempo, se renovarem na atenção ao Espírito Santo e guiadas por Ele?