A missão não se trata de uma “moda”. Para o diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa, as experiências missionárias são “ação do Espírito Santo”.
Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o cónego Daniel Batalha Henriques faz um balanço do Fórum das Missões, que decorreu recentemente, e aponta a necessidade de se organizarem “ações de missão” em Portugal.
Que balanço faz do Fórum das Missões, que decorreu nos passados dias 17 e 18 de outubro, na Portela?
Ainda iremos reunir o secretariado do Sector da Animação Missionária para fazer a avaliação. No entanto, de uma forma pessoal e provisória, considero que foi uma experiência muito rica! Este Fórum era algo que todos os grupos sentiam necessidade. Quem participou, pode dar testemunho da riqueza que foi o Fórum. O objetivo era que nós pudéssemos colher toda a abundância de experiências ricas de missão que se realizam dentro da nossa diocese. Por isso, o objetivo foi atingido. E quando digo missão, pode ser cá dentro, ou lá fora, através de grupos diocesanos ou na área da diocese.
Até porque a missão não é apenas sair para longe…
Quando era miúdo lembro-me de ver os missionários que passavam lá pela paróquia e que falavam de missões longínquas. Aquilo era muito fascinante. Hoje continua a ser de facto uma dimensão fundamental da missão da Igreja – a missão ad gentes. De há uns tempos para cá, têm-se vindo a desenvolver muitas experiências de missão para leigos, ligados a congregações, paróquias, a universidades, que partem e realizam, nesses lugares, tempos prolongados de missão. Mas esses grupos que vão também têm ações de missão cá, em Portugal, até porque há alguns que não têm disponibilidade para estarem muito tempo nesses países. Procuramos que exista sempre a consciência de que não basta ir. Cá, também é preciso desenvolver ações de missão. E depois, percebermos que as periferias não são necessariamente fisicamente longínquas.
Há dias estava a ler umas perguntas que um jornal de jovens de uma favela de Buenos Aires mandou ao Papa Francisco para ele responder. Uma das perguntas era: “Quando o Santo Padre fala de periferias, está a referir-se a quê?”. O Papa responde que “todos nós temos o nosso centro, onde nos sentimos seguros e confortáveis, onde dominamos. A periferia é aquilo que fica fora do nosso centro”. É necessário, por isso, ir a essas periferias.
Como apresenta o Sector da Animação Missionária do Patriarcado?
Nos estatutos da Cúria, o número 32, que fala do Sector da Animação Missionária, diz de uma forma muito clara quais as suas competências: “Promover e dinamizar iniciativas pastorais que visem infundir e aprofundar nas comunidades diocesana e paroquiais a consciência da dimensão missionária, constitutiva de toda a autêntica vida cristã. Estas atividades visarão dois objectivos, a prosseguir unitariamente: incentivar a perspectiva da “missão ad gentes” e a cooperação da Diocese de Lisboa com outras Igrejas irmãs, de modo particular com as que tiveram origem na missionação portuguesa; promover, no espaço da Diocese, ações de evangelização nas zonas e sectores mais descristianizados, em ritmo missionário”. Os grupos que se dedicam a esta pastoral estão sempre à procura de uma paróquia onde possam desenvolver uma ação de missão. Por isso, pensámos pedir ao senhor Patriarca que nos enviasse para onde nos achasse necessários.
E para onde foram enviados?
Foi-nos indicada a paróquia de Alcabideche, que agora tem um novo pároco e que está muito motivado com esta ideia. Está tudo ainda a ser construído, mas o nosso objetivo é congregar todas estas forças e dinamismos, coordenados pelo pároco e com as comunidades locais. É um projeto que pensámos para três anos. O objetivo é que, ao fim desse tempo, a comunidade se sinta mais viva, mais ativa, mais missionária.
Já no passado sábado, 25 de outubro, realizou-se em Alvide, Alcabideche, a ‘Missão AmarTe’. É uma ideia para juntar os jovens que fazem missão ad gentes num espaço de partilha, mas também com uma ação de missão concreta que eles possam desenvolver. O facto de ser em Alcabideche já tem a ver com isto. É uma realidade muito diversificada porque ali existem hospitais, prisões, colégios, comunidades muito diferentes. A ideia é que, durante os três anos, se possam desenvolver uma série de ações, presença, missão, sempre em coordenação com o pároco e comunidade local. E que eventualmente no próximo ano pudéssemos começar noutro sítio, até porque estamos a falar não só em zonas geográficas mas também de sectores, áreas, outras realidades.
De que forma se organiza o Sector de Animação Missionária?
É um sector muito antigo. Eu estou integrado nele há 12 anos. Agora sou diretor. Habitualmente é um sector com a presença de religiosos e religiosas missionários. Já teve vários diretores, sempre com uma equipa de leigos, irmãos e padres. Recentemente, pensámos, de forma simples, propor para este ano duas iniciativas: uma pontual, que foi o Fórum das Missões, que se realizou nos dias 17 e 18 de outubro, e uma outra que esperamos que tenha uma certa continuidade. O que fiz foi criar um grupo de trabalho mais pequeno. Temos também um grupo mais alargado, representativo da diversidade e das experiências de missão que existem dentro da diocese. Somos cerca de 10 elementos no grupo de trabalho e o grupo mais alargado conta com 20 a 30 pessoas.
Que balanço faz dos 12 anos de colaboração neste sector?
Tem sido, para mim, uma graça muito grande trabalhar com esta equipa. Nestes anos em que estive integrado neste sector, houve um testemunho fantástico de zelo missionário destes padres que foram passando, quer dos que foram diretores, quer dos que integraram a equipa. Dos leigos, aos jovens, muito ligados à espiritualidade das congregações e movimentos, mas muito empenhados. Tem sido uma alegria conhecer essa generosidade toda e sentido de missão que existe. É uma bênção.
Como carateriza a dimensão missionária na Diocese de Lisboa?
Há quem diga que pode ser uma moda: hoje em dia toda a gente quer fazer uma experiência de missão… Eu creio que é a ação do Espírito Santo! Esta consciência de ir ao encontro dos que estão mais afastados, que devo sair de mim próprio e que devo fazer isso, quer em termos pessoais ou em grupo… É uma consciência muito marcada, pelas coisas que estão a acontecer, e que se vai vendo, por exemplo, também no Jornal VOZ DA VERDADE. É algo que está a surgir em todo o lado. É uma consciência que está muito vincada, na vida dos grupos, comunidades, paróquias… Deixo a pergunta se esta consciência missionária estará presente na vida de cada batizado, no seu trabalho, na sua família…
Patriarcado de Lisboa – leia a entrevista completa aqui.