O patriarca de Lisboa foi um título criado por bula de Clemente XI faz hoje 300 anos. É mérito de D. João V, que graças ao ouro do Brasil pôde montar a armada que várias vezes foi em socorro do Papa contra os turcos. Mas também reconhece o papel das Descobertas na propagação do catolicismo. Entrevista ao atual cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
À volta da criação do Patriarcado de Lisboa, a 7 de novembro de 1716, de que comemoramos hoje os 300 anos, temos D. João V a ajudar o Papa contra os turcos, temos também D. João V a enviar uma grande embaixada a Roma. O Portugal do início do século XVIII era muito, muito importante para a cristandade?
Era muito importante, porque não nos podemos esquecer de que não se confinava aqui, ao território europeu. Era muito importante porque se projetava no Atlântico Sul, sobretudo no Brasil, embora tivesse também presença na costa africana e no Oriente. E, além daquilo que era o território politicamente ligado a Portugal, havia o chamado Padroado do Oriente que eram territórios cuja evangelização estava confiada, por papas do século XV, aos reis de Portugal; e que eles iam exercendo conforme dispusessem ou não de missionários e também vencessem uma certa concorrência que outras iniciativas missionárias partidas da Europa desenvolviam. E isto leva-nos à famosa embaixada de D. João V. Essa embaixada já tinha chegado a Roma, chefiada pelo marquês de Fontes, para resolver problemas precisamente ligados ao Padroado do Oriente, mas também, digamos, para a nobilitação da capela real aqui do Paço da Ribeira. Com tudo isto, há o problema do avanço turco pelo Mediterrâneo, sobretudo no Adriático, e que punha em causa a sobrevivência da república de Veneza. E o Papa Clemente XI pede aos príncipes cristãos para ajudarem a aliviar aquele cerco turco. Acontece que boa parte não estava disponível. Havia as sequelas ainda da Guerra da Sucessão de Espanha.
Ou seja, as grandes potências católicas, como a Espanha, a França e a Áustria, falharam.
Não corresponderam. Correspondeu D. João V. E, efetivamente, uma armada portuguesa aliviou essa pressão turca no Adriático e isso foi decisivo para que, enfim, em 1716 as coisas se resolvessem depressa.
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