Estamos a viver um ano que põe em destaque o lugar que a PALAVRA de Deus deve ter na Igreja e no caminhar de cada um de nós. Que importância damos à escuta, ao encontro silencioso e orante de uma passagem do Evangelho ou de outro livro da Bíblia? Que disposições interiores e até exteriores despertamos em nós quando é proclamada a PALAVRA na Liturgia?
Neste domingo (o domingo é sempre O DIA por excelência da PALAVRA feita VIDA na Ressurreição de Jesus) vem ao nosso encontro o Livro de JOB. É chamado um livro sapiencial. E perguntamos: que sabedoria pode transmitir-nos esta história de uma pessoa cuja vida se desenrola em acontecimentos de uma grande felicidade e em outros marcados por sofrimentos de toda a ordem, que levam Job ao extremo da desolação, da solidão total, das perguntas angustiantes que faz a Deus, ele que tinha uma vida honesta e santa? Vamos acompanhando o desenrolar deste «filme» que é, em grande parte, o filme da nossa vida e da vida de todas as pessoas. E sem cairmos num pessimismo que nos derrota, acolhemos aquilo que Job vive e, certamente a forma como ele, caindo e levantando-se, vai chegar à LUZ. No fim da narração deparamo-nos com um novo JOB, reconciliado e feliz a dizer a Deus: «os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti mas agora veem-te os meus olhos. Por isso, retrato-me e faço penitência.» (Job, 42, 5-6).
Este livro é para ser lido à luz de Cristo, o HOMEM das dores, o HOMEM NOVO RESSUSCITADO.
Creio que todos estamos convencidos da importância da tarefa da Missão que a Fé nos propõe e que vemos realizada na vida de Cristo e na vida de S. Paulo. Podemos dizer que Fé sem Missão é uma realidade vazia, não tem conteúdo e não traz nada à vida das pessoas. Todos devemos comprometer-nos na Igreja, dando de nós próprios o interesse, a entrega e o empenhamento na construção de uma comunidade sempre mais viva e mais interessada em tornar melhor tudo aquilo que forma o nosso mundo. Cada um tem dons e qualidades que pode colocar ao serviço dos outros, numa disponibilidade generosa e fiel e numa abertura do coração que é fonte de alegria e de felicidade. Olhemos para Jesus e para Paulo que neste dia nos falam da Missão que levavam a cabo, indo ao encontro das pessoas a quem levavam o conforto nas dificuldades e a certeza de que Deus e o Seu Reino estavam com elas. Na passagem do Evangelho de S. Marcos, Jesus aparece a visitar a sogra de Pedro que estava doente e a quem Ele cura. Em seguida, vemo-lo em oração prolongada pela noite dentro e, finalmente, a dizer que precisa de estender a sua ação a outros lugares, a outras gentes e não se limitar apenas a algumas povoações. A sua missão não conhece fronteiras, pois veio para se encontrar com todos. Daqui nasce a exigência missionária a que a Igreja deve estar sempre atenta. S. Paulo, na carta que dirige aos cristãos e catecúmenos de Corinto, revela as suas convicções sobre a MISSÃO que lhe foi confiada. É bom para nós recordar essas convicções, pois elas constituem a medula e a raiz da Missão em que todos, por dom generoso do Espírito, participamos. Fixemo-nos nesta afirmação: «Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória; é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho.» Reflitamos e tiremos as conclusões que sejam luz para o nosso caminhar.
Padre Manuel Magalhães Fernandes