«A incredulidade de Tomé é mais útil à fé do que a fé dos discípulos que acreditam.» (S. Gregório Magno)

O presente domingo é o domingo da Misericórdia. Esta foi uma decisão do Papa S. João Paulo II que respondeu ao pedido de Santa Faustina que o terá recebido do Senhor. Deste modo somos levados a considerar a importância da Misericórdia que nasce no coração de Deus, se manifesta de um modo muito particular na vida de Jesus, é derramada em nós pelo Espírito Santo e desdobra-se em ações concretas na nossa relação com as pessoas, no dia-a-dia da nossa existência. O sentido da palavra misericórdia é, em si mesmo, muito expressivo. Nela entra a miséria e o coração. O CORAÇÃO inclina-se sobre a miséria ou sobre as misérias que nos afetam e dominam. Vemos como Jesus tem compaixão dos pecadores, dos pobres, dos mais débeis e doentes. O Seu coração nunca se cansa de perdoar, de curar e de converter aqueles que precisam. É o caso muito concreto de Tomé, o apóstolo que coloca condições para acreditar na ressurreição de Jesus. Exige ver e tocar nas cicatrizes que a cruz deixou no Corpo do Senhor, em concreto nas suas mãos e no seu peito. E Jesus, num ato de misericórdia, diz a Tomé: «olha as minhas mãos; chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus.» (Jo. 20) Que bela atitude de Jesus e que bela resposta de Tomé, iluminado e convertido.

Vou agora pedir ao Pe. Tomás Halik, um teólogo de grande renome, que nos esclareça sobre as chagas de Cristo ressuscitado. Este é um tema deveras interessante para nós. O Pe. Tomás começa por falar de um caso que se terá passado com S. Martinho. Ei-lo. «Um dia Satanás apareceu-lhe sob a figura de Cristo. Mas o santo não se deixou enganar: «Onde estão as tuas chagas?», perguntou. E conclui este teólogo: «Já não acredito em religiões sem chagas». E acrescenta mais este testemunho da sua fé: A minha fé só pode alijar o fardo da dúvida (deixar de ter dúvidas) e experimentar a certeza íntima e a tranquilidade do estar em casa se percorrer o íngreme e difícil caminho da cruz, quando se orientar para Deus através da estreita porta das chagas de Cristo; se caminhar pela porta dos pobres, pela porta dos feridos, que os ricos, os saciados e os seguros de si mesmos, os conhecedores e os videntes, os sãos, os justos, os sábios e os precavidos não conseguem transpor, tal como um camelo não passa pelo fundo de uma agulha.» (Lc. 18, 25)

Tomás Halik em «O meu Deus é um Deus ferido», Paulinas, pg. 20 e 21.

Padre Magalhães Fernandes