O Evangelho deste XXIII domingo do tempo comum convida-nos a contemplar o milagre da cura de um surdo-mudo. Geograficamente percebemos que Jesus encontra-Se no meio do território da Decápole (Mc 7,31). Muitos detalhes neste Evangelho ajudam-nos a perceber o sentido desta cura. Jesus afasta-Se com o doente e vai para longe da multidão. Toca-lhe os ouvidos com os dedos e a língua com a saliva, ergue os olhos para o céu em atitude de oração suplicante, suspira profundamente em atitude de compaixão e ordena “Efatá” ao doente, que se ‘abra’, à cura. Também vemos que é um homem que vive num território pagão, considerado pela teologia judaica, excluído da salvação. O doente é alguém com algum impedimento. A falta da linguagem impedia o estabelecimento das relações, a comunicação e a partilha das suas ideias. Neste relato do Evangelho há um grupo que leva o homem surdo-mudo à presença de Jesus.

A fé torna-nos ouvintes da Palavra de Deus que, consequentemente, nos faz evangelizadores da mesma. A falta de fé torna o homem surdo e mudo. Por isso, Jesus abre os ouvidos e a boca dos homens para que sejam capazes de ouvir e falar. A imagem do homem surdo e mudo representa aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de encontrar Cristo e escutar o Seu Evangelho, assim como os irmãos que, deliberadamente, fecham os ouvidos e o coração à escuta e à contemplação da Palavra. Jesus dirige-Se a este homem para lhe restituir a capacidade de se abrir ao outro e aos outros, com uma atitude de confiança e de amor gratuito. Oferece-lhe a oportunidade extraordinária de encontrar Deus, que É amor e Se deixa conhecer por quem ama.

Através deste trecho, São Marcos procura apresentar qual é missão de Jesus e a da comunidade cristã. Portanto, a liturgia deste domingo convida-nos a celebrar Jesus Cristo, o nosso Salvador que não faz aceção de pessoas, mas liberta-nos da nossa surdez e mudez e enriquece-nos na fé para o discipulado. É Ele Aquele que nos ajuda a realizar a passagem da nossa incredulidade à fé. Depois, desafia-nos a trazer outros para a fé através da nossa presença na sociedade. Certamente os que levaram aquele homem doente confiavam que Jesus podia curá-lo. Temos que servir, como padrinhos e madrinhas, os nossos irmãos na fé. Jesus convida-nos à vida nova tal como possibilitou ao surdo-mudo a sair de si próprio, do seu comodismo, para fazer da sua vida uma história de união com Deus e de partilha com os irmãos.

O Evangelho ilumina-nos sobre o lugar de Jesus na vida da fé e do anúncio da Palavra. Só Jesus pode dar a entender os planos de Deus e dar aos discípulos uma liberdade de linguagem para transmitirem os mesmos com toda exatidão e verdade. Além disso, o Evangelho de hoje deve fazer-nos pensar sobre o que aconteceu no nosso Batismo quando, no rito precisamente denominado “Efatá”, o sacerdote, tocando-nos nos ouvidos e na boca, convida a ouvirmos a Palavra e a professarmos a Fé.

Cada vez que ficamos curados pela escuta da Palavra de Deus é o momento ideal para nos tornarmos testemunhas e discípulos do Reino de Deus. “Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz com que os surdos oiçam e que os mudos falem»” (v.37). Deixe Deus tocar nas suas feridas para ser curado para a missão.

Demos graças a Deus pelo dom da nossa fé e peçamos-Lhe que cure o nosso interior e as nossas deficiências espirituais para podermos ouvir e proclamar as Suas maravilhas até aos confins da terra.

Pistas de Reflexão

  • De que forma reconheço e testemunho as maravilhas de Deus na minha vida?
  • Tenho estado aberto a Jesus? Tenho-O deixado fazer em mim grandes coisas?
  • Acompanho espiritualmente os meus afilhados?

Desejo-vos uma semana maravilhosa, repleta de paz e saúde.
Pe. Andrew Prince