O pano do fundo deste capítulo desmascara os líderes religiosos que em vez de cuidarem do povo a eles confiado, desviaram-no e levaram-no à perdição e à desgraça. Por isso, na primeira parte deste Evangelho, Jesus contrapõe o pastor ao ladrão. Enquanto os guias do povo procuravam apenas os seus próprios interesses, o verdadeiro pastor dá de comer em abundância às suas ovelhas. As ovelhas conhecem a voz do pastor e seguem-no. É também a única porta (“porta das ovelhas”) para a salvação eterna. Ou seja, além de conduzir o Seu rebanho para a Vida Eterna como o Bom Pastor, Jesus é Ele mesmo a porta de entrada para a Vida Eterna.
Como podemos distinguir a voz do Pastor (Cristo) da voz do ladrão, do tentador ou do salteador? Propomos aqui uma reflexão que o nosso querido Papa Francisco apresentou sobre as duas vozes. Diz o Papa Francisco que se pode aprender a discernir sobre essas duas vozes. Na verdade, elas falam duas línguas diferentes, ou seja, têm maneiras opostas de bater no nosso coração.
A voz de Deus nunca obriga: Deus propõe-Se, não Se impõe. Em vez disso, a voz ruim seduz, assalta, obriga: suscita ilusões deslumbrantes, emoções tentadoras, mas passageiras. No início persuade, faz-nos acreditar que somos omnipotentes, mas depois deixa-nos vazios por dentro e acusa-nos: “Tu não vales nada”.
A voz de Deus, pelo contrário, corrige-nos, com muita paciência, mas sempre nos encoraja e nos consola: sempre alimenta a esperança. A voz de Deus é uma voz que tem um horizonte. A voz do mal, por outro lado, leva-nos para um muro, leva-nos para um canto.
Outra diferença. A voz do inimigo distrai do presente e quer que nos concentremos nos medos do futuro ou na tristeza do passado, o inimigo não quer o presente: faz brotar a amargura, as recordações dos erros sofridos, daqueles que nos fizeram mal e tantas más recordações.
Em vez disso, a voz de Deus fala no presente: “Agora podes fazer o bem, agora podes exercitar a criatividade do amor, agora podes renunciar aos arrependimentos e aos remorsos que mantêm prisioneiro o teu coração”. Anima-nos, leva-nos em frente, mas fala no presente: agora!
E ainda: as duas vozes suscitam em nós questionamentos diferentes. A que vem de Deus será: “O que me faz bem?”. Em vez disso, o tentador insistirá em outra pergunta: “O que eu gostaria de fazer?”. O que eu quero! A voz ruim sempre gira em torno do eu, as suas pulsões, as suas necessidades, ao tudo e imediatamente. É como os caprichos das crianças, tudo e agora.
A voz de Deus, pelo contrário, nunca promete a alegria a baixo preço: convida-nos a ir além de nosso eu para encontrar o verdadeiro bem, a paz. Lembremo-nos: o mal nunca dá paz, antes provoca o frenesim e depois deixa a amargura. Este é o estilo do mal.
Por fim, a voz de Deus e a do tentador falam em “ambientes” diferentes: o inimigo prefere as trevas e a falsidade; o Senhor ama a luz do sol, a verdade, a transparência sincera.
O inimigo nos dirá: “Fecha-te em ti mesmo, ninguém te entenda e te ouve mesmo, não confie!”. O bem, pelo contrário, convida-nos a abrir, a sermos límpidos e confiantes em Deus e nos outros. (Vaticano, 03 de maio de 2020)
Portanto, é necessário entender que o discernimento se torna uma condição indispensável neste processo. Sejamos dóceis ao Espírito Santo, atentos à voz de Deus na escuta da Palavra e na vivência do nosso quotidiano.
Que Deus nos ajude a buscar esta única Porta e a entrar por ela. Jesus Cristo é o nosso Guia para a Vida Eterna, para uma vida feliz.
Pista de Reflexão
- Como vivo a minha vida cristã em relação à dinâmica do Pastor e da ovelha? Oiço a voz do Pastor (Cristo) ou vivo à minha maneira?
Desejo-vos uma excelente semana.
Rezai pelas vocações!
Pe. Andrew Prince Fofie-Nimoh